terça-feira, 30 de dezembro de 2008

SABEDORIA SISTÊMICA


COMENTÁRIO
O formato 'ensaio' como forma de expressão literária, consolidado por Michel de Montaigne, e inaugurado por Plutarco, permite ao sujeito da redação uma confortável liberdade de abordagem, linguagem e formatação, que dificilmente se encontra em outras categorias de escrita. No Ensaio, o autor tem total liberdade de expressão, também podendo gozar de uma prosa mais livre, informal e coloquial. Nesta citação, Voltaire comenta em grande estilo a intercomunicação subjacente entre todas as coisas e acontecimentos que se insinuam à revelia de nós e de nossa precária compreenção.


CITAÇÃO

"Examinai a situação de todos os povos do mundo: é o que é por força de uma série de acontecimentos aparentemente insulados, porém realmente baraçados em íntimo emaranhamento. São tudo rodagens, polés, cabos, molas dessa máquina colossal." (pag59)

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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959
Imagem: Encontrada em... http://www.whitman.edu/VSA/letters/index.html

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

MEDO DO DIFERENTE


COMENTÁRIO
Nesta citação, Mestre Voltaire mostra seu estilo crítico e cínico ao comentar as perseguições da Santíssima Inquisição.

CITAÇÃO
"Antigamente, quem quer que tivesse um segrêdo numa arte corria o risco de passar por bruxo. Toda seita nova era acusada de degolar crianças em seus mistérios. Todo filósofo que se desgarrasse da gíria da escola era criminado de ateísmo pelos fanáticos e espertalhões. E condenado pelos cretinos."
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959
Imagem: Encontrada em... http://www.geocities.com/cjr212criminologia/voltaire.htm

domingo, 28 de dezembro de 2008

HÁBITOS ANTROPOFÁGICOS


COMENTÁRIO
Monsieur Voltaire em sua experiência com uma indígena antropófaga norte-americana.
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CITAÇÃO
"Em 1725 trouxeram-se 4 selvagens do Mississipi à Fontainebleau. Tive a honra de falar-lhes. Havia entre eles uma dama do País, a quem perguntei se havia comido gente. Respondeu-me muito singelamente que sim. Fiquei um tanto escandalizado, e ela desculpou-se dizendo ser preferível comer o inimigo, depois de morto a deixá-lo servir de pasto às feras; que demais o vencedor merecias a preferência. Nós outros, em batalha campal ou não, por fas ou por nefas matamos nossos vizinhos e pela mais vil recompensa pomos em função o engenho da morte. Aqui é que está o horror. Aqui é que está o crime. Que importa que depois de morto se seja comido por um soldado, por um urubu ou por um cão?" (pag32)
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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

DO AMOR



CITAÇÕES
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"O amor é o estofo da Natureza bordado pela imaginação."

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"Todos os outros sentimentos de presto se amalgamam com o amor como metais em fusão com o ouro."
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COMENTÁRIO


Monsieur Voltaire, elegantíssimo nos formatos prolixos e completíssimo nas sentenças exíguas.


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Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

Imagem: Encontrada em... http://texasswimming.blogspot.com

DA ALMA

COMENTÁRIO
Escrito belissimamente em forma de ensaio, inspirado talvez em Plutarco e Montaigne, VOLTAIRE disse o que quis e bem entendeu sobre todos os assuntos que desejava. Em seu clássico DICIONÁRIO FILOSÓFICO, logo em um dos primeiros escritos, questiona e critica com sabedoria a existência da alma humana. O que Monsieur VOLTAIRE não imaginava - e nem poderia, pois nasceu no final do século XVII, no ano de 1694, e veio a falecer aos 84 anos, na segunda metade do século XVII, em 1778 - é que o ser humano, no início do Terceiro Milênio, estaria prescrutando o comportamento dos átomos e moléculas com o advento das nanotecnologias.

CITAÇÕES
"Pode a tua razão só por só dar-te luzes suficientes para concluires, sem um recurso sobrenatural, que tens uma alma?
Os primeiros filósofos, quer caldéus, quer egípcios, disseram: forçoso é haver em nós algo que produza o pensamento; esse algo deve ser extremamente sutil: sopro, éter, substrato, um tênue simulacro, uma enteléquia, um número, uma harmonia. Finalmente, segundo divido Platão, é um composto do mesmo e do outro. São átomos que pensam em nós, disse Epicuro, depois de Demócrito. Mas, meu amigo, como pensa o átomo?
Confessa que nem o imaginas. Aceita-se seja a alma um ser imaterial. Mas vós não concebeis o que seja este ente imaterial." (pag14)
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"Cícero não tinha mais que dúvidas. Seus netos aprederam a verdade com os primeiros Galileus que arribaram a Roma. Mas antes disso, e até depois disso, em todo o resto da Terra onde não penetraram os apóstolos, cada um devia dizer à própria: Quem és tu? De onde vens? Que fazes? Para onde vais? Tu és não sei o que, que pensa e que sente. Mas ainda que pensasses e sentisses cem bilhões de anos, nada saberias por tuas próprias luzes, sem o auxílio de Deus. Homem! Deus outorgou-te o entendimento para bem procederes e não para penetrares a essência das cousas por Ele criadas." (pag21)

Livro: DICIONÁRIO FILOSÓFICO // Autor: VOLTAIRE // Editora: ATENA, SÃO PAULO, 1959

RITUAL ANTROPOFÁGICO


CONTEXTO
O ritual de comer o seu inimigo tinha a ver com glória e poder. Estes povos acreditavam que ao comer um inimigo poderoso e valente, por exemplo, tais virtudes se incorporariam a eles. Tais hábitos eram comuns entre as tribos que habitavam este belíssimo continente.

CITAÇÃO
"Sabe-se que a morte ritualizada e a deglutição eucarística dos cativos repersentavam o ponto culminante de uma cerimônia cujo sacramento maior, e objetivo quase único, era a vingança. (...) A vítima ideal era aquela que tivesse sido capturada no campo de batalha. Seu destino passava a pertencer então àquele que primeiro o houvesse tocado durante a luta. Triunfalmente conduzido à aldeia do inimigo, o prisioneiro era insultado e maltratado por mulheres e crianças. Assim que entrava na taba, tinha que gritar: "Eu, vossa comida, cheguei". Após essas agressões iniciais, porém, era bem tratado e recebia como companheira uma irmã ou filha de seu captor e podia andar livremente pelo território tribal - fugir era uma ignomínia impensável. O cativo passava a usar uma corda presa ao pescoço: era o calendário que indicava o dia de sua execução - que podia ser dali a muitas luas (e até anos). Quando a data fatídica se aproximava, os guerreiros preparavam ritualmente a clava com a qual a vítima seria abatida. A seguir, começava o ritual, que se prolongava por quase uma semana e do qual participava toda a tribo, das mulheres aos guerreiros, dos mais velhos aos recém-nascidos.
Na véspera da execução, ao amanhecer, o prisioneiro era banhado e depilado. Depois, deixavam-no 'fugir', apenas para recapturá-lo em seguida. Mais tarde, o corpo da vítima era pintado de preto, untado de mel e recoberto por plumas e cascas de ovos. Ao pôr-do-sol, iniciava-se uma grande beberagem de cauim - um fermento, ou 'vinho', de mandioca. No dia seguinte, pela manhã, o carrasco avançava pelo pátio, dançando e revirando os olhos. Parava em frente ao prisioneiro e perguntava: "Não pertences tu à nação (tal ou qual), nossa inimiga? Não mataste e devoraste, tu mesmo, nossos parentes?" Altiva, a vítima respondia: "Sim, sou muito valente, matei e devorei muitos." Replicava então o executor: "Agora estás em nosso poder; logo serás morto por mim e devorado por todos." Para a vítima aquele era um momento glorioso, já que os índios brasileiros consideravam o estômago do inimigo a sepultura ideal. Os ossos do morto eram preservados: o crânio, fincado em uma estaca, ficava exposto em frente à casa do vencedor; os dentes eram usados como colar e as tíbias transformavam-se em flautas ou apitos." (pág. 237)

LIVRO: A COROA, A CRUZ E A ESPADA - Lei, ordem e corrupção no Brasil Colônia // AUTOR: Eduardo Bueno // EDITORA: Objetiva, Rio de Janeiro (2006)

A DESPROPORÇÃO DE FORÇAS


COMENTÁRIO
Com uma política imperialista, escravagista e dominadora, a presença portuguesa na Costa Atlântica da América do Sul sempre foi marcada pela violência e pela barbárie. E foi justamente com a implantação dos engenhos de açúcar e a expansão dos canaviais - que incluía a tomada de terras ancestralmente pertencentes às tribos, como também a escravização dos seus membros - que a guerra finalmente eclodiu.

CITAÇÃO
(pág. 237) "A desproporção de forças entre as armas de fogo e de metal dos europeus e os tacapes e flechas dos Tupinambá era tão gritante que, embora vários portugueses tenham sido feridos, nenhum um único morreu, ao passo que, entre os nativos, as baixas ultrapassaram 700 homens."

LIVRO: A COROA, A CRUZ E A ESPADA - Lei, ordem e corrupção no Brasil Colônia // AUTOR: Eduardo Bueno // EDITORA: Objetiva, Rio de Janeiro (2006)

sábado, 27 de dezembro de 2008

O CAMINHO DAS MINAS GERAIS

RELATO DE VIAGEM DE AZPICUELTA NAVARRO EM 1555

COMENTÁRIO

Independentemente do que se seguiu, e dos 500 anos seguintes de dominação e barbárie, incontestavemente o tempo das grandes navegações e descobrimentos ultramarinos foi uma época incrível de aventuras e desbravamentos épicos indescritíveis.

Eduardo Bueno, em seu quarto livro da belíssima coleção Terra Brasilis, intitulado A COROA, A CRUZ E A ESPADA, traz-nos pérolas de nossa história e origem como povo e país, como este empolgante relato de Azpicuelta Navarro, redigido em Porto Seguro em 1555 e enviado para os padres irmãos da Companhia de Jesus, em Coimbra, Portugal.

A Vila de Piratininga é renomeada e passa a se chamar São Paulo, singelo povoado que ignorava seu destino de ser a maior cidade da América Latina. Sua posição geográfica privilegiada torna-a ponto obrigatório de passagem para as trilhas indígenas pré-existentes, como também ponto de partida para a busca do tão sonhado Monte Dourado e suas riquezas. Rumores da existência de metais preciosos que vinham das bandas do sertão trazidos por escravos recém chegados provocou, à época, o reacendimento da antiga chama da cobiça por ouro e prata. Azpicuelta Navarro padre catequisador comenta em seu relato a viagem que fez para o interior das novas terras em direção a tal sonho, que mais tarde viria a se confirmar. Tratava-se das Minas Gerais.

CITAÇÃO

(pág. 195) "Dar-se conta do caminho em particular seria nunca acabar; mas como sei que com isso lhes dará consolação, direi alguma coisa do que passamos e vimos. Saberão, irmãos caríssimos, que entramos pela terra a dentro bem 350 léguas (cerca de 2 mil quilômetros), sempre por caminho pouco descobertos, por serras mui fragosas que não têm conta, e tantos rios que em certas partes no espaço de 4 ou 5 léguas passamos 50 vezes contadas por água, e muitas vezes se não me socorressem me houvera afogado. Mas de 3 meses fomos por terras mui úmidas e frias por causa dos muitos arvoredos e das árvores grossas e altas, de folha que está sempre verde. Chovia muitas vezes, e muitas noites dormíamos molhados, especialmente em lugares despovoados, e assim todos, em cuja companhia eu ia, estiveram quase à morte de enfermidades, uns nas aldeias, outros em despovoados, e sem outra que sangrar-se de pé, forçando a necessidade a caminhar, e sem ter outro mantimento às mais das vezes que farinha e água não perigou nenhum porque nos socorreu Nosso Senhor com a sua misericórdia, livrando-nos também de muitos perigos de índios contrários que algumas vezes determinaram de matar-nos. Passamos muitas zonas despovoadas, especialmente uma de 23 jornadas, por entre índios que chamam tapuias e que é uma geração de gente bestial e feroz, porque andam pelos bosques, como manadas de veados, nus, com cabelos compridos como mulheres; e sua fala é muito bárbara e eles mui carniceiros: trazem flechas ervadas (envenenadas) e dão cabo de um homem em um instante."

LIVRO: A COROA, A CRUZ E A ESPADA - Lei, ordem e corrupção no Brasil Colônia // AUTOR: Eduardo Bueno // EDITORA: Objetiva, Rio de Janeiro (2006)

* Imagens: Encontradas em... http://www.expomar-rio.com.br/2ApresentacaodeFestival13.html // http://br.geocities.com/segredosdemacaco/etno.htm // http://www.rnsites.com.br/arlindo007.htm // http://www.portalitabirito.com.br/turismo/historia.htm // http://raphaelcloux.blogspot.com/2008_05_11_archive.html

domingo, 30 de novembro de 2008

PLUTARCO - Citações IV

DA LINGUAGEM FRANCA DOS AMIGOS VERDADEIROS
Mas, em geral, há poucos homens que têm coragem de ser francos com seus amigos e que não procuram de preferência lhes agradar. E, entre esses eleitos, dificilmente encontrarás ainda aqueles que saibam usar oportunamente a franqueza e não a façam consistir em críticas e repreensões.
(pág. 81)
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Livro: COMO TIRAR PROVEITO DE SEUS INIMIGOS // Autor: PLUTARCO (66-120 d.C.) // Editora: MARTINS FONTES, São Paulo, 1993/1997
Imagem encontrada em... www.summagallicana.it/lessico/p/Plutarco.htm

PLUTARCO - Citações III


PODE-SE INTRODUZIR UM ELOGIO DISCRETO NA CRÍTICA
Um olho inflamado não pode suportar o dia claro, nem uma alma afetada de uma paixão violenta, uma censura sem concessão feita com franqueza demais. O meio mais seguro de fazê-la receber tal admoestação consiste em introduzir nessa última algum louvor discreto, como neste verso:
"Pândaro, onde estão, pois, teu arco, tuas flechas aladas e tua fama que aqui ninguém iguala?" (pág. 99)
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Livro: COMO TIRAR PROVEITO DE SEUS INIMIGOS // Autor: PLUTARCO (66-120 d.C.) // Editora: MARTINS FONTES, São Paulo, 1993/1997

PLUTARCO - Citações II

É PRECISO SUPORTAR COM DOÇURA AS BRINCADEIRAS E AS MALEDICÊNCIAS: ESSA PACIÊNCIA É UM MEIO MUITO EFICAZ DE APRENDER A DOMINAR SUA LÍNGUA
8. Mas deixemos esta questão para tratar do domínio que se deve exercer sobre a própria língua: não está aí uma parte diminuta da virtude. Ora, ficar-se-á impossibilitado de manter sua língua sob controle e a autoridade da razão se, a poder de exercício e trabalho assíduo, não se triunfou das mais detestáveis paixões tais como a cólera, por exemplo. O discurso que jorra voluntariamente, a palavra que dos dentes transpôs a barreira, e o fato de que certas expressões levantam vôo espontaneamente, isso acontece geralmente aos espíritos comuns que seguem sua inclinação e flutuam ao sabor de sua pusilanimidade, de seu julgamento débil, de sua conduta irrefletida. Ora, a palavra, coisa volatilíssima, expõe-nos, como nos ensina o divino PLATÃO, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem inflingir. Mas o silêncio jamais tem contas a dar; não só não causa sede, como diz HIPÓCRATES, mas dá ao homem difamado um traço de nobreza, uma marca socrática, ou mais exatamente uma qualidade heracliana, se é verdade que esse herói não se inquietava mais com as calúnias do que com uma mosca zumbidora. (pág. 16)
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Livro: COMO TIRAR PROVEITO DE SEUS INIMIGOS // Autor: PLUTARCO (66-120 d.C.) // Editora: MARTINS FONTES, São Paulo, 1993/1997
Imagem encontrada em... http://culturaclassica.blogspot.com/2007/10/symposion-e-philanthropia-em-plutarco.html

PLUTARCO - Citações I



A FRANQUEZA É GERALMENTE ACOMPANHADA DE DISCRIÇÃO
"32. Evitemos ainda criticar nossos amigos em público, e meditemos sobre esta tirada de PLATÃO. Vendo SÓCRATES censurar com muita vivacidade um de seus discípulos no decorrer de um banquete, ele lhe disse: "Não seria preferível fazer-lhe essas censuras em particular?" SÓCRATES então replicou: "E tu? Não podia esperar que estivéssemos sós, para me dizeres isto?" Diz-se que PITÁGORAS fez publicamente a um de seus jovens discípulos uma reflexão tão violenta que o rapaz se enforcou de desespero. Depois desse acontecimento, o ilustre homem a ninguém mais censurou diante de testemunhas." (pág. 96)
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"Não empreguemos, então, jamais a franqueza diante dos outros se não desejamos brilhar em público ou arrastar as multidões, mas usar a linguagem franca com fins úteis e curativos." (pág. 94)
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Livro: DA MANEIRA DE DISTINGUIR O BAJULADOR DO AMIGO // Autor: PLUTARCO (66-120 d.C.) // Editora: MARTINS FONTES, São Paulo, 1993/1997

PLUTARCO - Dados Biográficos

Nasceu em c. 46 d.C., em Queronéia, cidade da Beócia próxima a Delfos, e aí também veio a falecer, em c. 120. Acredita-se que Adriano, imperador romano de 117 a 138 d.C., tenha encarregado PLUTARCO de governar a Grécia. PLUTARCO, como filósofo, escritor e historiador, precedeu Michel de Montaigne na arte do "Ensaio" como formato literário. Em Morália, grande síntese sobre a moral antiga, PLUTARCO introduz toda a arte de um conversador culto, misturando oportunamente brincadeiras, anedotas, mitos, discussões, em conformidade com os bons usos da elegância, da polidez e do rigor.
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Imagem encontrada em...
http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:003MAD_Plutarco.jpg

terça-feira, 28 de outubro de 2008

CULTURA E PERSONALIDADE - Citações I

livro: CULTURA E PERSONALIDADE (1945)
autor: Ralph Linton (1893-1953)
editora: Mestre Jou (SP, 1967)

"..as sociedades, mais do que os indivíduos, são as unidades funcionais da luta pela existência na nossa espécie e que são elas, como um todo, as portadoras e perpetuadoras das culturas." (pág. 63)

"Os seres humanos parecem ter uma necessidade premente de segurança emocional que deriva de ajustamentos amplos e íntimos e de uns poucos outros indivíduos. Tem também grande aptitude para cooperar na consecução de objetivos limitados e específicos e para se integrar em unidades funcionais." (pág. 66)

"...todos os sistemas de classificação e organização que existem dentro de uma sociedade primária prescrevem certos padrões de cultura ao indivíduo de acordo com sua posição no sistema." (pág. 80)

"Enquanto tiver um único parente vivo dentro da sociedade, mantém sua posição no sistema familiar; e mesmo que todos os seus parentes hajam desaparecido, pode tornar a entrar no sistema pelo caminho da adoção ou do casamento." (pág. 81)

"O indivíduo e seu meio ambiente constituem uma configuração dinâmica cujas partes guardam todas uma relação recíproca tão íntima, e em tão constante interação que é muito difícil saber onde é que se encontram as linhas de demarcação." (pág. 89)

"Como premissa, podemos tomar o ato de que a função da personalidade em seu conjunto é a de permitir ao indivíduo que produza formas de conduta vantajosas nas condições impostas pelo seu meio ambiente." (pág. 92)

"...muitos dos padrões humanos de conduta são reações não a uma necessidade isolada, mas a um agregado de necessidades. A necessidade de obter dos demais reações favoráveis é um componente quase constante de tais agregados." (pág. 95)

"Uma vez que outros indivíduos são elementos quase constantes no meio ambiente humano, as condições que possam levar ao registro dessa necessidade estão quase constantemente presentes. Além disso, os seres humanos estão de tal modo inteiramente condicionados à presença dos outros que têm forte tendência para projetar esse fator humano até mesmo em situações em que não esteja presente. Propendemos a representar para um público, mesmo quando não há público." (pág. 96)

"A pressão social mantém as condutas do indivíduo em desenvolvimento dentro dos limites estabelecidos pelos padrões de cultura de sua sociedade e assegura que os hábitos que nele surjam serão tais que tornem sua conduta previsível de acordo com sua prosição dentro da sociedade." (pág. 97)

"É mais fácil viver com hábitos do que com intenções conscientes e com aqueles vivemos quase todos, durante a maior parte da vida." (pág. 99)

"O conjunto organizado de hábitos estabelecidos no indivíduo constitui a massa de sua personalidade e dá-lhe forma, estrutura e continuidade. Com efeito, pode dizer-se que a personalidade consiste num núcleo de hábitos organizados e relativamente persistentes, cercado por uma zona fluida de reações de conduta que se acham em processo de redução a termos de hábitos." (pág. 100)

"...o indivíduo praticamente chega a toda nova situação provido do conhecimento dos padrões de conduta que outros membros de sua sociedade criaram e testaram. Só quando esse conhecimento não existe, tem ele de recorrer ao laborioso processo de resolver problemas por si só." (pág. 102)

"Na ausência de padrões a serem imitados, a técnica normal do adulto para resolver novos problemas é avaliar a situação à luz de passada experiência, projetando antecipadamente o que será uma reação adequada, antes de iniciar a conduta manifesta, isto é, primeiro pensamos e depois agimos." (pág. 102)

"Não resta dúvida que o pensamento é um substitutivo para o ensaio e erro manifestos e que executa as mesmas funções com menor gasto de tempo e energia. Os processos intelectuais funcionam principalmente no nível consciente e abrangem a manipulação dos resíduos conscientes da experiência que chamamos conhecimento." (pág. 103)

"Todo indivíduo está familiarizado com uma série de padrões de conduta criados pelos outros. Possui também uma provisão de elementos de informação mais ou menos independentes que podemos chamar de fatos." (pá. 103)

"Nenhuma sociedade jamais ensinou às suas jovens gerações a verdade a respeito de sua própria história." (pág. 104)

"Todos raciocinamos a partir de certas premissas, isto é, de elementos de conhecimento inquestionáveis, e a natureza dessas premissas reflete-se nas conclusões." (pág. 105)

"A personalidade não é apenas uma continuidade, mas também uma continuidade que está mudando continuamente." (pág. 116)

"Parece possível que a adoção de novo sistema de valores-atitude implique necessariamente no adulto tantos reajustes em suas reações específicas estabelecidas que se torne mais molesta do que valiosa." (pág. 118)

"As culturas, como as personalidades, são continuidades num constante estado de mudança e como tais têm seu processo próprio de crescimento, de estabelecimento de novos padrões de reação e de eliminação de antigos. Esses processos encontram paralelo com os que existem na personalidade e dependem, em última análise, da habilidade dos membros de uma sociedade em criar, aprender e esquecer novas formas de conduta." (pág. 121)

"Assim, a origem de novas formas de reação de conduta parece ser uma função não da sociedade como um todo mas de alguém, ou quando muito de uns quantos dos indivíduos que compõem a sociedade." (pág. 121)

"Na realidade, todo padrão cultural inclui elementos manifestos e ocultos, organizados num todo funcional." (pág. 123)

CULTURA E PERSONALIDADE - Citações II

livro: CULTURA E PERSONALIDADE (1945)
autor: Ralph Linton (1893-1953)
editora: Mestre Jou (SP, 1967)

"...a personalidade é primordialmente uma configuração de reações que o indivíduo desenvolveu como resultado de sua experiência, a qual por seu turno, deriva de sua interação com seu meio ambiente." (pág.131)

"...embora as qualidades inatas do indivíduo influam no desenvolvimento da personaldiade, o tipo de influência que exercem será grandemente condicionado por fatores ambientais." (pág. 132)

"Os processos de progresso científico, além da simples coleta de fatos, são primordialmente processos de substituição. Quando os conhecimentos que se vão acumulando tornam uma explicação de determinado fenômeno insustentável, nova e melhor explicação tem de ser formulada." (pág. 136)

"Quando dizemos que o desenvolvimento da personaldade do indivíduo está condicionado pela cultura, o que realmente queremos dizer é que está condicionado pela experiência que ele obtém de seu contato com tais esteriótipos." (pág. 137)

"As diferenças individuais e as diferenças do meio ambiente são capazes de entrar numa série quase infinita de permutas e combinações, sendo igualmente diversa a experiência que os diversos indivíduos possam delas obter." (pág. 145)

"A respeito da formação das personaldiades individuais, a cultura age como um fator dentro de uma série de fatores, entre os quais se incluem as potencialidades do indivíduo, fisiologicamente determinadas, e suas relações com os demais indivíduos." (pág. 148)

"Os que investigam a cultura, a sociedade, o indivíduo e as complexas relações recíprocas desses fenômenos são pioneiros e, como todos os pioneiros, têm que trabalhar com métodos toscos e apressados. Estão trabalhando nos isolados pontos avançados que a ciência estabeleceu em certas orlas de um novo continente. Mas até mesmo suas mais longas expedições dentro do desconhecido têm sido meras travessias entre as quais ficaram grandes zonas por explorar. Os que vierem depois deles serão capazes de traçar mapas de acordo com os requisitos das ciências exatas e explorar suas riquezas. Os pioneiros podem apenas avançar, sustentados pela crença de que em alguma parte deste vasto território jaz oculto o conhecimento que armará o homem para a sua maior vitória: a conquista de si mesmo." (pág. 149)
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Imagem: Encontrada em... http://www.lapaginadelprofe.cl/cultura/8acultypers.htm

sábado, 4 de outubro de 2008

A TESTEMUNHA - orelhas

"A desumanidade humana agora extrapola qualquer parâmetro, e as pessoas desse novo mundo 'moderno' apertavam-se cada vez mais para caber nestes sistemas urbanos, antigos, obsoletos e fadados ao fracasso. Na verdade, vivíamos num mundo pós-colapso; e nesse mundo não era fácil se viver.
O transe de trabalhar compulsivamente já não oferecia nenhuma esperança viável, e o pouco que restava de sincero e de importante no mundo acontecia ali, dentro daquele minúsculoo apartamento.
Eram caixas de concreto armado onde todos se espremiam em busca de abrigo e proteção. Lá fora, por falta de espaço ou simples mau gosto, o mundo se empilhava, e as edificações projetavam-se cada vez mais para os céus.
Pássaros, depois da varanda, pareciam conversar animadamente seus assuntos aéreos e voadores. Em seus discursos, podia-se sentir a alegria da vida e o quão bom era voar. Aqueles fabulosos seres alados tinham sobrevivido à extinção das árvores e nidificavam agora no concreto armado das cidades sem árvore; mas, ainda assim, pareciam felizes."

A TESTEMUNHA - contracapa

Num futuro não muito distante, num mundo cinza e desumano, vive A TESTEMUNHA. Avanços tecnológicos incríveis ampliam de forma dramática o abismo social no seio da sociedade, e as grandes urbes são lugares difíceis de viver. Suspense, crise ambiental, existencialismo e reflexões filosóficas num conto ecológico pós-tudo.

A TESTEMUNHA DE ALEXANDRE QUARESMA

COMENTÁRIOLIVRO/São Paulo/Escriba/2006.
Trata-se de um conto de suspense ecológico, existencialista e pós-tudo publicado pela Escriba Editora.
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CITAÇÃO
"Perceber que o mundo se resume àquilo que cremos que seja o mundo, ou seja, que talvez as realidades só possam existir a partir do ponto de vista do ser individual que experimenta, é definitivamente fascinante."
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LIVRO: "A TESTEMUNHA" // AUTOR: ALEXANDRE QUARESMA // EDITORA: ESCRIBA // SÃO PAULO // 2006

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O BEIJO DE TCHEKHOV

CITAÇÃO
"E o mundo inteiro, toda a vida, pareceram a Riabóvitch uma brincadeira incompreensível, sem objeto... Mas, afastando os olhos da água e olhando o céu, lembrou novamente como o destino, na pessoa de uma mulher desconhecida, acarinhara-o sem querer, lembrou seus devaneios e imagens de verão, e a vida que levava pareceu-lhe tosca, miserável, incolor..."
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COMENTÁRIO
Inspirado, Antón Tchekhov confronta os limites do indivíduo em meio à imensidão dos seres. Um beijo, roubado na penumbra, ilegítimo e momentâneo, leva o personagem da trama a questionar sua singela existência.
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Livro: O BEIJO E OUTRAS HISTÓRIAS // Autor: Antón Pávlovitch TCHEKHOV (1860-1904) // Editora: BOA LEITURA, SP // Conto: O BEIJO

terça-feira, 23 de setembro de 2008

NANOCAOS E A RESPONSABILIDADE GLOBAL - orelhas

BONS, PERFEITOS, INVISÍVEIS... CHEGARAM SILENCIOSAMENTE PARA NOS FAZER FELIZES?
Os produtos que incluem substâncias nanotecnológicas em sua composição já estão à venda por toda parte, mas poucos consumidores sabem disso. Não apenas porque é uma tecnologia muito recente, mas principalmente porque seus fabricantes não podem divulgar intensamente as vantagens de algo que ainda não se conhece as desvantagens completamente. Pela ignorância ou esquecimento proposital do 'princípio da precaução', pela liberdade que até agora permite que tais inventos fiquem longe de rígidos protocolos científicos, e pela gravidade e possível risco que representa para a saúde dos consumidores e do meio ambiente, o debate ético sobre nanotecnologias torna-se imperativo e urgente.

NANOCAOS E A RESPONSABILIDADE GLOBAL - contracapa

"A nanotecnologia tem que ser tratada como um avanço da humanidade. Da mesma maneira que existem lugares especiais e representativos de determinadas culturas, e assim são tombados como patrimônio cultural da humanidade, as NT's (nanotecnologias) têm que ser um patrimônio tecnológico de toda a humanidade."

NANOCAOS E A RESPONSABILIDADE GLOBAL - capa

LIVRO/São Paulo/Escriba/2006.
Ensaio científico sobre nanotecnologias, sociedade e meio ambiente.